terça-feira, 3 de novembro de 2009

Saias indianas e o sentir-se bem

Eu tenho um sério problema. Algo em mim considera que tudo que diz respeito a aparência deveria ter um carimbo escrito "futilidade" marcado em cima. E acho que ainda não postei muito aqui porque é uma batalha evitar isso. É um pedaço de mim que estou aprendendo, a duras penas, a amarrar, amordaçar e trancar no sotão até que se acalme. 

Resolvi ligar o foda-se e tomar vergonha na cara, by the way.

O fato é que estou usando vestido quase ininterruptamente a duas semanas.

Hoje me vi lavando uma pilha de saias e vestidos indianos (sabendo que a outra metade da pilha me aguarda) e acho um inferno lavar essas roupas pq parece que só de olhar na direção da máquina vai fazer ela rasgarem (sim, eu joguei uma saia indiana no meio de roupas normais em um ciclo completo de lavagem e ganhei uma roupa digna de Mad Max no final do processo), então lavo elas na mão.  E embora elas sejam a coisa mais prática de lavar quando você tem só a pia da pousada como lugar de lavar roupa (sim, eu sou uma pedreira com minhas roupas), encarar aquele tanque ancestral que está na área de serviço e que foi feito para a altura da minha avó (que era ainda mais baixa do que eu) é algo que eu adio infinitamente.

infinitamente = quando o calor chega e eu não tenho outra opção.

Ok. Mentalizei que hoje não precisaria fazer exercício com os pesinhos e foi em frente.

No final, foi divertido. Porque eu fiz o caos com água para todos os lados e estou pensando em tingir papel na próxima vez que for fazer isso.

Mas estou fugindo do assunto.

Como as saias talvez nao estejam secas na hora de trabalhar amanhã, resolvi pedir ajuda ao batman. Batman no caso, significa ir até a casa da minha mãe pedir algo emprestado.

Minha mãe tem as calças indianas mais legais deste lado da galáxia.

O comentário dela foi que me chamou atenção. Ela disse que ama as calças, mas tem um problema em usar elas. As pessoas reparam.

Roupas indianas são chamativas. Fato. Elas são feitas para isso. Tem cores intensas, padronagens marcantes e bordados imensos.

Olhei para minha mãe e respondi a verdade. "As pessoas vão reparar não importa o que a gente use."

Isso eu tenho aprendido nos últimos anos. Se eu estiver com uma bata branca e jeans, as pessoas reparam. Se estiver usando a indefectível & indestrutível camiseta do Wolverine as pessoas reparam. Se estiver usando saião preto e blusinhas discretas, as pessoas reparam.

Lembra do "ligar o foda-se" do começo do post?

É aqui que ele entra. Roupas precisam fazer a gente se sentir bem. Se, como nós, você trabalha com um monte de gente em volta, olhando para você, não importa o que você vista, de algum modo vai chamar atenção. Então, fique confortável, feliz e sinta-se bonita.

Eu me sinto feliz e bonita usando saias indianas. E em roupas cor de vinho. Ou em jeans e camiseta preta. Gosto de tênis all star e coturnos. E meias coloridas, com desenhos infantis ou listras de cores berrantes.

Eu aprendi que a moda raramente faz bem para a minha imagem. Meu corpo não é o corpo que os estilistas pensam quando produzem roupas. Eles pensam em alguém vinte quilos mais magra  e dez centímetros mais alta, que não teve filhos. Ao contrário dessas roupas hindús. Elas caem bem em qualquer corpo. Ou então, eu faço um "garimpo" misturando roupas atuais e uma boa saída aos brechós onde existem roupas que seriam novas se não fossem dos anos 80.

Eu aprendi que ser discreta é um conceito bem variável.

Para mim, o vestido indiano cor de vinho é discreto. E a camiseta do Wolverine. Para outras pessoas, é camisa branca e calça social. E teve época em que isso significava usar coturno, saia xadrez pregueada e blusinhas de bandas punk. E quer saber? Não devo ter vergonha disso. É bom saber que eu mudei, mas é bom saber que eu me vestia como gostava.

Tem sido bom ter coragem de vestir o que sinto vontade. Sem me aprisionar em pensar se as pessoas vão reparar ou não. Porque, na real, não importa. Me sinto bem assim. Me sinto bela. Minha tatuagem fica a mostra. Minhas pernas ficam cobertas (sou encanada com elas, um passo por vez, e essa história conto outro dia aqui). Posso sentar no chão ou em qualquer lugar. Posso trabalhar. Não morro de calor.



Tem sido um aprendizado especial esse. Aprender que posso fazer as coisas, simplesmente porque me fazem bem.

3 comentários:

Edson Bueno de Camargo disse...

Lembro do dia em que definitivamente percebi que nunca seria cristão, quando percebi que a máxima, "ama ao próximo como a ti mesmo" era sua espinha dorsal e descobri que não me amava. Ao contrário me odiava de morte. E já que o mundo é uma merda mesmo, pelo menos podemos estar confortáveis.

Edson Bueno de Camargo disse...

Nota a camiseta do Wolverine deve ter mais de quinze anos, e já me pertenceu, e está ótima.

Os fabricantes de roupa vão querer capturá-la e destruí-la.

Inês Barreto disse...

Eu já fui a louca da roupa indiana. Lá nos tempos distantes do colegial (6, 7 anos atrás), eu só usava isso. Isso e preto. E camisas de banda. Vivia cercada de meninas com roupa de surfista, que criticavam minhas saias esvoaçantes, mas eu simplesmente não conseguia usar aquilo.

Aliás, hoje eu estou com uma regata indiana daquela época. Me serve bem, é fresca e confortável e combina até com calça jeans.