segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Divagações sobre a lua e vênus no céu

about - http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2013/09/fenomeno-astronomico-permite-ver-planeta-venus-proximo-da-lua.html


Quando eu era adolescente, ganhei um anel de lua e estrela. Eu decidi que seria então a "menina do anel de lua e estrela" como na música. Depois, meu avô me mandou escolher um presente, em uma vitrine de jóias de prata. Perguntei se ele tinha certeza - ele disse que tinha, e eu escolhi O ANEL de lua e estrela, que eu usava o tempo todo.

Acho que foi assim que eu virei Filhote de Lua. De algum jeito maluco, folheando um dicionário de xavante, enquanto tentava descobrir qual seria aquele que pra mim significava meu "nome de adulta" - meu nickname. Era 1997, e eu já tinha entendido que minha vida só faria sentido tendo os dois pés plantados na realidade que estava do outro lado do computador.

Eu ainda não tinha lido Neuromancer. Mas já tinha esse craving louco pela Matriz.

Então, a menina do anel de lua e estrela virou Filhote de Lua. Um nome que para ser sincera eu reconheço mais como meu do que o Sarah Helena que eu adotei para conviver numa sociedade onde a ideia de escolher o próprio nome ainda é negada.

Já faz tempo que não sou mais menina e o anel está lá no altar dos ancestrais sem ser usado. Acho que isso é parte do que me afoga: a ausência de uma identidade em que eu me encontre. Não que eu não me afogasse então. Mas essa sensação de ter vendido minha alma ainda não se fazia presente.

 Me faltou a habilidade cartesiana para ser uma tecnauta pré histórica com as possibilidades atuais, embora eu enxergue a lógica que move a realidade por trás do desenho da tela e sinta falta do tempo em que eu podia resolver tudo com uma linha de comando e não com cliques.

Me faltou a habilidade para ser qualquer coisa mais do que uma criatura sempre à margem. Mas havia uma lua, uma estrela. Uma marca de nascença que me coloca entre aqueles que nunca vão encontrar seu lugar.

Quando eu li Neuromancer, me apressei em conseguir um shuriken. Uma estrela indicando o caminho. Mas perdi o shuriken em uma mudança e por algum motivo ele continua ausente quando deveria estar pendurado na parede.

Não importa o que aconteça, eu sempre retorno para a lua e a estrela.

Nasci na noite antes da lua estar totalmente cheia. Como se ela me desejasse sempre ansiando por uma completude. 

Vênus eu ainda não entendi o que quer comigo. Talvez um dia desses eu ache o shuriken e entenda a estrela que acompanha essa lua.

talvez assim eu descubra para que eu sirvo além da ansiedade.