segunda-feira, 6 de junho de 2011

Ativismo, feminismo, defesa LGBTT, e essas coisas.

Eu cresci de um jeito um pouco diferente. Meus pais, longe de serem perfeitos, fizeram um bom trabalho me criando. Enquanto outras meninas queriam ser a próxima top model, eu queria ser Emma Goldam, Rosa Luxemburgo, Olga Benario Prestes.

Eu fui por um bom tempo uma ativista "clássica". De manifestação, reunião de partido, pé na rua distribuindo panfleto ou invadindo prédio público e fechando a rua em passeata. O tempo passou e eu fui descobrindo outras armas. Principalmente - eu descobri que viver é um ato político.

Não é que a gente não precise do ativista clássico - pelo contrário. Eu sinto falta daquilo e ainda acho que a ação direta é fundamental. Tive motivos pessoais que me afastaram disso, histórias longas que não cabem no momento, mas meu coração vibra e eu apoio incondicionalmente o ativismo clássico.

Mas não basta só o ativismo na rua. É preciso ir além.

A maneira como agimos, criamos os filhos, tratamos as pessoas, nossos bichos de estimação, as marcas para quem damos dinheiro, a maneira como agimos na internet, nossa atuação profissional, tudo é um ato político.

Não existe essa de "mas isso é só um filme" "mas isso é só um programa de rádio" "mas isso é só uma piada" ou "isso são só negócios".

Vivemos em uma teia onde nossas ações se somam a de outras pessoas de todos os tipos, e com isso nossas ações fazem sim uma enorme diferença no mundo. 

Algumas coisas chamaram minha atenção essa semana. A ameaça do Marcelo Tas contra a blogueira Lola, do Escreva, Lola, escreva. O horror da polícia atacando os manifestantes da UFES que estavam fazendo um protesto pacífico, os reacionários cristãos contra o PLC 122. Os mamaços e as reações misóginas contra eles e a Marcha das Vadias.

E se somou a isso meu filho lutando consigo mesmo para não chorar hoje de manhã, sendo obrigado a ir para uma escola que não significa nada para ele e que agride e vai contra tudo em que acreditamos e da maneira libertária como ele é criado. Meu menino tem seis anos e a plena consciência de que aprende muito mais quando está em casa com a gente do que na escola.

Eu vejo tudo isso como reflexos de um mesmo problema,que eu não sei resolver, mas que também não me permite ficar paradae exige de mim alguma ação.

E o que eu faço? Eu vivo. Faço malabarismos para sustentar a casa com um salário de 20 horas de professora (e não, eu não trabalho só 20 horas por semana, mas a base de cálculo é essa) e poder ter mais tempo com o companheiro o e o filho. Encaro os preconceitos das pessoas por estar em uma relação estável não convencional. Faço o que posso como política de "contenção de danos" ao efeito nocivo da escolarização no meu menino e nos meus alunos. Eu coloco meus alunos em contato com música erudita. Eu ajo na intenret. Mando emails, compartilho links, faço doações, escrevo artigos, entro em discussões. Eu me policio para não me deixar levar pelos meus preconceitos (e sim, eu tenho preconceitos, como todo mundo tem, assuma isso ou não.). Separo o lixo reciclável. Mantenho duas árvores em um quintal urbano e planejo como tornar a casa ainda mais verde. Eu boicoto algumas marcas e não tenho carro próprio. Tive meu filho em um parto não hospitalar e amamentei até que ele tivesse três anos e meio, e acreditei no desmame natural, que deu muito certo.

E eu não escondo quem eu sou. Sou uma politeista helênica (resumindo - eu acredito nos antigos deuses gregos e tento reconstruir a religiosidade deles), sou comunista libertária, sou bissexual, sou mamífera. Sou nerd, e prefiro gastar em livros o que outras pessoas gastam com cosméticos. Acredito em arte de guerrilha e em gentileza. Não me encaixo no biotipo que as pessoas acham ideal. E eu conto para as pessoas que é possível sim ser diferente, porque todos somos diferentes.

E eu aceito que você seja diferente de mim. E eu amo as pessoas em suas infinitas diferenças. E sim, eu espero de volta a mesma aceitação. Acha que eu concordo com tudo que as pessoas no blogroll ali embaixo falam? Não, eu não concordo com tudo não. Mas são coisas que precisam ser faladas. É preciso discutir. É preciso lutar, viver, amar, chocar.

Viver é um ato político. E mesmo que as vezes seja torturante, eu acredito que vale a pena. Porque politica é bom, sim. É orgânico como é a solidariedade. É lembrar velhos adágios anarquistas que não se pode negar.

E em dias como hoje, apesar de me sentir tão pequena, tão fraca e tão inócua, eu ainda assim consigo gostar do que vejo no espelho.

Uma música muito legal

Mas ao invés de postar a letra aqui, ao invés de pegar a tradução que o And Vésper fez, eu vou mandar vocês até oblogue do meu irmãozinho...

http://contraculturadebolso.wordpress.com/2011/06/04/grand-canyon-tracey-thorn-2/

sábado, 4 de junho de 2011

satisfazer quem?

Eu adoraria satisfazer todo mundo, se isso fosse possível; mas tentando satisfazer todos, eu me torno capaz de não satisfazer ninguém. Eu cheguei à conclusão de que o melhor rumo é satisfazer a própria consciência e deixar o mundo criar seu próprio julgamento, favorávelou não.

Mohandas K. Gandhi

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Auto censura

É fácil reparar que eu não escrevo muito por aqui. Na verdade, meus blogs andaram bem abandonados. Houve dois motivos para isso. Um, bom: reduzi meu tempo de internet para escrever um romance, que agora estrou na desesperadora faze de reescrita e portanto continua me demandando muito tempo.

O outro não é nada bom. É aquele monstrinho chamado auto censura. Meu crítico interno adora dizer que eu não escrevo bem o suficiente, que meus blogs não são interessantes o suficiente, que eu estou escrevendo a toa, que tudo está uma merda.

Comecei a pensar em como a auto censura é uma coisa perniciosa. É claro que as vezes o que escrevo não é tão bom assim. Sim, as vezes a sensação de que se está escrevendo para as paredes se instala. Mas a única forma de se melhorar a escrita é escrevendo. É tentando e arriscando.

Então eu queria propor um pensamento aqui. Quantas coisas nós não deixamos de fazer por medo?

Quantas vezes nós temos tanto medo do que os outros vão pensar que não fazemos?

Irônico que como professora eu combata a auto censura dos meus alunos, e tenha deixado ela se instalar em mim tão gravemente.

Vamos combinar uma coisa. Vamos dar a chance de que falem mal de nós. Permitir que nossa escrita melhore, que nossas receitas melhorem, que nossa arte, criatividade, que nossas vontades evoluam, da única forma que é possível. Fazendo.

Estou de volta ao blog. Escrevendo, traduzindo citações, falando de coisas que acho que deveriam estar sendo discutidas em bom português.

Para começar, queria recomendar aos leitores e passantes um blog muito bacana, que eu tenho mantido com a ajuda do Edson, que é poeta, chamado Gambiarra Literária. Toda semana tem exercícios para escrita lá, citações de autores falando sobre o ato de escrever, artigos e vídeos que encontramos pela web.

E de vez em quando, vão aparecer exercícios criativos aqui também. Quem sabe alguém se dispoe a fazer algo? Vamos investir em nós. Vamos nos amar mais e vamos permitir que abeleza invada nossa vida, do único jeito que é possível. Arrebentando as janelas e escancarando as portas, antes que ela decida arrancar o telhado e nos chacoalhar até entendermos o recado.