Enquanto escuto Grandola Vila Morena, fico pensando que no fim, no fundo, continuo muito parecida com a adolescente que eu fui.
Continuo gostando e criticando a cultura pop. Continuo discutindo
feminismo e batendo contra o sexismo. Continuo lutando por uma arte que
seja acessível. Continuo fumando para acalmar a inquietude, e sofrendo
por sentir que nunca faço o suficiente. Continuo acreditando que só a Anarquia poderá nos salvar de nos destruirmos.
Continuo acreditando que a fé é uma intoxicação mística, e que nada é
mais sagrado do que o que está aqui, bem diante dos nossos olhos.
Continuo tentando acreditar.
A cada dia eu penso que não dá mais. Que não aguento mais bater na
ponta da faca, que o sangue que correu já foi o bastante. Que vou
desistir da escola pública, do magistério. Que a violência venceu a
poesia, e que nada será o bastante.
Então algo acontece. Uma
criança em algum lugar nasce com a dignidade de um parto que não foi
roubado. Uma menina ousa acreditar que não, ela não tem que dar
satisfações a ninguém. Uma pessoa risca poesia na porta de um banheiro
público. Alguém assiste um filme e foge para assistir o por do sol cair
atrás da cidade. Alguém questiona o destino de uma obra de arte pública
que foi arrancada.
E eu quase ouso acreditar de novo.
Talvez a violência tenha mesmo vencido a poesia. Mas talvez não.
Um comentário:
blza estamos no ar
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