Um amigo questionou. Mas não soa amargo esse "celebrar o quê?"? Eu disse que não. É só uma pergunta - o que vamos celebrar?
Para começar, celebrar não é comemorar. Celebrar é o ato de tornar algo solene.
E sobre a amargura... ela é inerente a nós. Inerente a cada mulher que é bem resolvida, segura e viva, feliz. Porque nós reconhecemos que enquanto nós estamos aqui, vivas e relativamente inteiras, outras mulheres no mundo estão sofrendo e morrendo apenas pelo fato de serem mulheres.
Nós carregamos o peso e a sombra por cada irmã desconhecida que neste momento é violentada, espancada, torturada, assassinada, humilhada.
E são tantas, tantas irmãs, neste momento, que sofrem.
Mas Cecilia Meireles disse. A gente aprendeu com a primavera a se deixar cortar e voltar sempre inteira.
E a gente cerra os dentes, e dança. Nossos pés batem fortes na cadência da terra, nossa mãe primeira, enquanto nossos olhos choram. E nós transformamos a dor em beleza, e a tristeza ganha cores para que possamos carregar nossa vida.
Nós somos um bicho "que sangra sem morrer". E mais do que menstruar, isso significa que a gente carrega o sofrimento das eras sem quebrar. E continuamos. E não perdemos o riso, não paramos a dança.
Então eu celebro a nossa imensa capacidade de transformar a amargura em beleza, a dor em dança, a morte em riso. E celebro a dor imensa de minhas irmãs, porque mesmo que a gente continue seguindo em frente, nós carregamos acima de tudo, a memória de milhares de mártires anônimas que cairam diante desses abismos todos.
Porque eu sou Amarga tanto quanto sou Princesa. E eu danço, e luto a cada dia para tornar o mundo mais bonito, mas não esqueço a dor das que cairam.
3 comentários:
eu comecei a chorar na segunda linha do etxto, quase não acabo de le-lo. Vc é demais viu? Pegou exatamento o ponto da coisa e da dor fez nascer o belo.
Obrigada pela participação viu? Continue divulgando! Vamos ser vozes e letras!
Vai escrever bonito assim lá na China! (rs)
"Sarai" carrega o sal de tantas lágrimas
um povo lhe cabe no ventre
cabe no todas as mães
aquela que nos deu vida
aquela que nos mantém vivos
"Sarah" é o berço da ternura
em idade lhe legaram os Deuses um filho
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