Sou uma pessoa pouco convencional na relação com maquiagens por exemplo. Não uso. Não faço sobrancelha, nem tiro a pouca cutícula que tenho. Mas eu gosto de esmaltes.
Quando era adolescente eu usei todas as (poucas) cores de esmaltes que fugiam do convencional. Não era essa felicidade de tons e cores e efeitos que existe hoje. Eu costumava passar três ou quatro esmaltes para conseguir o efeito de cor que hoje eu consigo com um. Usava caneta prateada da Sakura para desenhar nas unhas.
Depois, na época em que entrei na bobagem de que gastar tempo comigo era desperdício (e não falo só de cuidado estético, falo de tudo mesmo), e parei.
Foi meio por acaso que em um encontro da minha roda de mulheres não convencional o assunto foi esmaltes. E eu digo, que coisa boa ter mulheres para sentar no chão e falar bobagens com confiança.
Lembrei do prazer que eu tinha com isso quando era adolescente. Comprei uma maleta, algodão, esmaltes coloridos. E voltei a pintar as unhas como eu fazia. Não simplesmente pintar as unhas, mas fazer desenhos nelas. Brincar com as possibilidades. Fazer efeitos.
Voltei a comprar esmaltes. Companheiro vasculhou a casa em busca dos meus esmaltes perdidos, mãe me deu uns de presente. Organizei os vidrinhos.
Ai as pessoas deram de se chocar. Que eu, estivesse pintando as unhas. Decorando as unhas. Fazendo frescurinhas nas unhas.
Pois é.
Usar esmalte, ainda mais do jeito que eu uso, é um ato de hedonismo lúdico. Não é só o fato de cultivar uma vaidade: é fazer isso porque é divertido. Porque posso brincar com as cores. Posso criar uma beleza que está acessível a qualquer uma e a todas. Basta ter dedos (mesmo que só alguns, porque conheço casos assim) para poder partilhar dessa beleza. Minhas unhas são curtinhas nesse momento, não são aquelas unhas imensas que parece que nasceram para camadas e camadas de cor.
Gosto disso. As unhas pintadas são uma forma de expressar sua beleza, sua personalidade, que os padrões de beleza impostos pela mídia não podem negar. Que não importa cor, idade, opinião política, você pode bincar com aquilo. Pode dar colorido para o cotidiano. Ressignificar seu olhar.
Quando olho minhas unhas por acaso, no meio do dia, eu sorrio. Carrego nos tons escuros, no glitter e no 3D. Gosto do brilho. Meus alunos gostam, acham colorido, deslizam o dedo sobre as minhas unhas, pintadas em tons absurdos, sempre com detalhes curiosos, desenhos, degradê de cores.
Não é uma beleza que distancia. Pelo contrário, me vi conversando com uma travesti (que era doze vezes mais feminina do que jamais serei) sobre cores de esmaltes, na fila do supermercado. Começando conversas ou quebrando a tensão, quando no meio de uma reunião tensa alguém reparou nos pequenos arco-íris nos dedos e senti o clima ruim dissipando no ar.
Não tenho opinião sobre manicures, sobre aquelas flores de técnica padronizada e isso tudo. Posso falar do que vivo: mulheres sentadas no chão, rindo e conversando enquanto cuidam umas das outras, usando esmaltes como remédios. Eu, sentada no meio de uma crise momentânea em que não consigo escrever, decidindo testar uma técnica diferente paa passar o tempo e me distrair para retomar o ritmo.
Dar colorido ao dia-a-dia. De todas as formas, incluindo minhas unhas.
3 comentários:
Porra, vá escrever bonito assim lá longe: "Posso falar do que vivo: mulheres sentadas no chão, rindo e conversando enquanto cuidam umas das outras, usando esmaltes como remédios".
Que delicia esta sua terapia!!
Beijao
Gostei bastante de seu texto e tomei a liberdade de fazer uma citação dele em uma blogagem parecida aqui:
http://blogsementesagrada.blogspot.com/2010/03/da-beleza.html
Também fala sobre beleza, mas sob outro enfoque. Espero que ache conveniente.
Sem mais, agradeço a sensibilidade!
Sergio
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