segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Eu, eu mesmo e...eu

A gente escuta muita besteira a respeito de amor próprio e auto estima. Uma dessas que li recentemente era de um psi-coiso metido a filósofo meio famosinho, dizendo que seres humanos são miseráveis e sempre se sentem mal mesmo e que esse é nosso estado natural, e ele usou Agostinho para se justificar e bom, eu fiquei muito puta, porque ele é do tipo que gosta de criar polêmica para ganhar ibope (por isso não vou colocar o nome dele aqui). Para começar, sendo um psi-coiso (não lembro se psiquiatra ou outra especialidade), é bem útil para ele que as pessoas se sintam miseráveis. Gente que está bem não rende dinheiro e o capetalismo já aprendeu isso muito bem. Mas acima de tudo, isso me acendeu uma luz.

O problema das pessoas com o amor próprio não é com o "próprio", é com o "amor". É com a dificuldade que as pessoas tem para compreender que amor não é todo cor de rosa fofo e purpurinado.

Amor próprio não significa não ter grilos, não se sentir inseguro nunca, adorar cada pedaço do seu corpo e mente. Pense, por um segundo, no amor que sentimos por outras pessoas.

Dentro do amor cabem, além de penteadeiras e outros móveis, sentimentos diversos e reações várias. Tem espaço para ficar com raiva, para brigar, para chorar juntos ou para fazer chorar. Existe dentro do amor uma tristeza mítica, incertezas várias. Mas englobando tudo isso, existe uma vibração de fundo, de prazer em estar juntos. De perceber o mundo com uma clareza maior, de enxergar coisas bobas que nos melhoram e tirar alegrias de pequenos atos simples.

Então, será que o amor próprio está mais Barbie e Ken, como nos propõem algumas pessoas, ou um amor mais verdadeiro, onde se presume uma busca, o criar uma história junto com, o encontrar um equilíbrio entre as vontades, aceitar que nem sempre os momentos vão ser bons, mas que tenha essa vibração de prazer, essa aceitação e a percepção de que somos mais quando estamos juntos. Nesse caso, juntando nosso corpo e nossa mente.

Amor próprio não é um amor propaganda de margarina, não é um amor daquelas propagandas de hidratante onde uma pessoa acorda de manhã já maquiada e de cabelo perfeito, e anda quase flutuando enquanto toma o café e passa o hidratante e tudo é luz do sol e música suave, falando sobre como é importante cuidar de si mesmo. Isso é uma idealização perigosa.

Amor próprio é usar a roupa que você gosta e não a que os outros impõem. É descobrir os prazeres que seu corpo pode provocar e sofrer junto com seu corpo quando algo vai errado, cuidando dele com o mesmo zelo que teria se estivesse cuidando de outra pessoa. É conhecer a história do seu corpo e como ele funciona, e saber o que vai fazer bem, o que vai fazer mal, e tomar decisões. É encontrar um balanço entre as vontades da mente e as necessidades do corpo.

Amor próprio, como qualquer amor, presume acordar com raiva do mundo e descontar no objeto amado, e naquele dia seu corpo se vê sujeitado a ser mal usado - e como um parceiro que responde ao seu xingamento, te causar uma ressaca no outro dia. Inclui raiva, tristeza, lutos, e tudo bem: não é menos amor porque não é pura perfeição. Minha nova frase preferida sobre isso é "se fosse fácil não chamava relacionamento, chamava miojo".

Mais que tudo, amor próprio é o único amor que termina só com o "até que a morte os separe". E mesmo assim, precisamos amar nossa mente também, e muita gente vai considerar que esse amor então, vai ir além. Então é preciso aceitação e paciência, domar os sentimentos tumultuados e acertar as arestas, para que o relacionamento funcione. E quando funciona... uau. Abre percepções e nos faz mais felizes e espalha alegrias, e dá um sentido meio Amelie Poulan para a existência.

Então, não pense que te falta amor próprio. Falta entender que relacionamentos destrutivos não levam ninguém a lugar nenhum. Que é preciso as vezes colocar em cheque nossas certezas e ouvir ao invés de falar. Que não podemos ser maníacos sedentos por controlar tudo. Amor próprio não é algo pronto, como nada na vida. É um processo. Um que é unico, pessoal e intransferível, e não importa as dicas, só você é capaz de vivenciar do jeito certo.



     



 


 

Um comentário:

Alexandra disse...

Sim, igual o amor da mãe que prefere que o filho pague pelos seus erros para aprender a ser um homem melhor do que o da mãe que passa a mão na cabeça achando que está sendo amorosa sem na verdade ensinar nada. Ou o amor próprio de deixar de 'se dar bem' para fazer o que é certo e virtuoso, porque sabe-se que se está acima desse jeito 'lei de gerson' injusto de ser e se é melhor do que isso. O amor que busca a excelência pelas lapidações/marteladas que o tornam mais belo e resistente. O amor que vê o outro como parte do mesmo todo e não fica comparando qual ser individualmente é mais miserável. Enfim... nada do que os pseudo-psi-cientistas costumam enxergar.