E de repente caiu a ficha de que eu nunca tratei o assunto por aqui. Claro que não - no meu mundo, falar de homossexualidade é como declarar "o sol nasce no leste". É tão natural que não é assunto.
Infelizmente, meu mundo não é o da maioria da nossa sociedade. E embora no meu mundo ninguém questione opção sexual, toda beleza seja respeitada, mulheres não sejam inferiores, propaganda não seja manipulação e ecologia seja questão de bom senso, eu vivo no mundão lá fora, onde as pessoas ainda são retrógradas e tristes.
Mas eu gosto de falar da beleza, e vamos ter tempo de falar das coisas difíceis no encontro que o pessoal está organizando (e eu vou, nem sei como, mas vou, vc vai?) que postei lá embaixo, aqui eu quero falar do bonito. Da minha casa, dos meus amigos.
Na minha casa, a vida é colorida. Afinal, eu moro na casa azul, e embora não tenha feito de propósito, isso significa alguma coisa. Então a primeira coisa é que aqui, como disse um amigo, "tem bicha pra caralho". Na verdade verdadeira, o que comanda aqui é a variedade. Temos espaço para a escala kinsey inteira. Aliás. aqui, escala kinsey é assunto de conversa bêbada, onde conseguimos realmente achar de tudo.
Quem ganha com isso? Todos, fato. Mas principalmente meu Beija Flor. No auge de seus cinco anos de idade, ele encara a homosexualidade como a coisa mais natural do mundo. Para ele, se o tio trouxe uma tia para brincar com ele, ou outro tio, quem se importa?
Graças a essa vivência, o Beija Flor não tem vergonha de gostar de rosa, e pode deixar os g.i.j.o.e.s. do lado dos My little Pony. Ele gosta de dançar e cantar, e sua vergonha nisso vem do perfeccionismo, (que é um problema natural de toda criança que convive com muitos adultos), mas não de vergonha do corpo. Ele gosta de perfumes e tem suas pequenas vaidades. Ele se acha bonito. Ele gosta de futebol e é obcessivo com caminhões e trens, e brinca de boneca (afinal, ele tem um pai que cuida dele de verdade). Ele é, acima de tudo criança, sem restrições de "isso é coisa de menina" "isso é coisa de menino". E entende que o orgulho que sente de ser um garoto não implica rebaixar ninguém no processo. Para ele, Toot & Puddle são um casal, e casal são duas pessoas que se amam, se beijam na boca e ficam de mãos dadas, independente de gênero.
Sei que ele vai ter momentos de sofrimento na escola por pensar diferente da média (porque variedade comanda esta casa, não só de opção sexual, mas de fé, política, cor, posturas, tudo). Mas sei também que ele vai saber se defender e sair dessa sem problemas, porque ele, como toda criança que convive com a variedade, é mais seguro de si, mais capaz de expor suas opiniões e lidar com vozes contrárias. (e se tudo o mais falhar, ele é grande pra idade e tem pais que entendem que as vezes "violência gera violência" significa "sua violência verbal provoca minha violência física").
Mas sinto orgulho em saber que meu filho tem como referências tanto heteros-empedernidos-vikings-durões, como malucos-descolados-de-cabelo-estranho como afetados-arrasa-quarteirão-fãs-de-lady-gaga e católicos-bem-resolvidos, loucas-afrodisíacas-que-mostram-o-corpo quanto meninas-discretas-de-roupa-masculina ou espiritualistas-discretos-homossexuais, além do papai e da mamãe nada convencionais, pessoas que, principalmente, não se encaixam em nenhum estereotipo e sabem que isso de se rotular é só um jogo, que a gente para quando perde a graça.
Que sabe que pessoas choram, se amam, são fortes, se gostam, brigam, tem fé, não tem, que conversam, que sofrem, que riem, o tempo todo e intensamente, independente de por quem elas sentem desejo, independente de quem elas amam.
No meu pequeno mundo, nós vivemos arco íris. Com todas as cores possíveis, muito mais do que só as sete. Em tudo, a variedade é o melhor remédio. E aqui nesta casa, respeito e tolerância não são lições a serem aprendidas, são nosso jeito de viver, hoje e sempre.
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